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Quem tem medo do ensino médio?

Morando há 18 anos na Finlândia e trabalhando há 13 para o governo finlandês entre as funções de professora do ensino fundamental e intérprete dos órgãos governamentais, posso dizer que tenho autoridade para falar sobre educação, além disso, possuo um mestrado em pedagogia pela Universidade de Helsinque e uma especialização em gestão pela Universidade de Harvard, o que endossa minhas afirmações, mas ainda assim, escuto mensalmente“ Quem é você para falar da educação do Brasil? Você nem mora aqui! Coloque-se no seu lugar!”

Por isso, começo este texto com a seguinte frase: “Prazer, meu nome é Ayla Huovi e eu sou brasileira”.

Dito isso, posso garantir que escrevo ou falo sobre educação porque vivi no Brasil até os 25 anos e transformei a educação em minha profissão na Finlândia. Morar em um país como a Finlândia me deu uma certa “super-visão”, um poder explicado cientificamente que me permite prever o futuro com facilidade, pois já vi algo acontecer antes.

Durante minha pesquisa de mestrado sobre a história da Finlândia, pude ver os erros e acertos que o país passou para chegar onde está. Para minha surpresa, vi práticas que eram comuns na Finlândia em 1890 sendo usadas no Brasil em 2023.

No Brasil, existem dois tipos de sistemas educacionais: público e privado, e eles não se comunicam muito. Mas isso será assunto para outro momento. Hoje, decidi escrever sobre o novo ensino médio, que agora é conhecido como o “bom e velho ensino médio”.

Quando vi pela primeira vez, em 2021, o anúncio do novo ensino médio nos jornais brasileiros, confesso que senti alívio, pois pensei: “Finalmente! O Brasil terá um ensino médio que segue as principais linhas educacionais do mundo”. Lembro-me de inúmeras lives e podcasts feitos na época para explicar como seriam os itinerários e cursos, uma luta inglória contra as milhares de notícias falsas criadas.

E para ajudar, essa decisão importante e boa foi tomada por um ministério da educação que não transmitia muita confiança em relação à efetividade e gestão. E o que aconteceu imediatamente? Criou-se uma rede de opositores do novo ensino médio, com um coro de “não dará certo!”.

Bem, meus amigos, venho por meio deste artigo para dizer: “Certamente não daria certo!” Agora, entra o meu poder de ver o futuro…

Na década de oitenta, a Finlândia adotava um modelo de ensino médio semelhante ao que o Brasil ainda utiliza em 2023. Quando um novo modelo, inspirado em países como Alemanha e Noruega, foi apresentado ao governo finlandês, ele foi imediatamente aceito e implementado. Entretanto, o novo modelo não teve sucesso e a Finlândia enfrentou dificuldades durante cinco anos, até que, em 1986, o ensino médio proposto finalmente alcançou seu objetivo de formar jovens com mais autonomia. Vale ressaltar que, na Finlândia, o ensino médio só se tornou obrigatório em 2022.

Diante desse contexto, podemos afirmar que seria natural pensar que a adoção desse novo modelo de ensino no Brasil seria desafiador, mas isso não significa que devemos desistir antes mesmo de tentar. Afinal, que tipo de educação queremos transmitir ao nosso povo quando dizemos “será difícil, melhor não fazer”? Além disso, é preciso questionar quando será o momento adequado para implementar mudanças significativas na educação do país. Esperar por uma melhoria macro pode ser uma espera longa e, talvez, nunca chegue. Portanto, é necessário coragem e determinação para implementar mudanças que possam contribuir para a formação de jovens mais preparados para o futuro.

Para você que não leu nenhum documento oficial sobre o ensino médio proposto ao Brasil, deixarei um resumo, que você poderá pesquisar de forma mais profunda, no site do MEC.

  • A nova estrutura curricular, passaria a ser organizada em torno de cinco áreas do conhecimento: Línguas, Matemática, Ciências Naturais, Ciências Sociais e Educação Profissional e Tecnológica. (nenhuma disciplina seria retirada, como alguns veículos da mídia anunciaram).
  • Com o novo currículo, os alunos teriam mais flexibilidade para escolher que disciplinas desejam cursar, além de terem a oportunidade de fazer cursos de educação profissional e técnica. Isso foi projetado para ajudar os alunos a se prepararem melhor para o mercado de trabalho e garantir que eles tenham as habilidades exigidas pelos empregadores (é uma prática comum, em outros sistemas educacionais e que funciona comprovadamente).
  • Os alunos teriam a oportunidade de estudar as disciplinas de forma mais integrada, com foco em problemas e aplicações do mundo real. Isso os ajudaria a desenvolver habilidades de pensamento crítico e resolução de problemas essenciais para o sucesso no mundo moderno (e isso foi considerado em 1980, aqui na Finlândia, colhemos os bons frutos desta decisão).
  • O novo currículo do ensino médio também daria maior ênfase ao desenvolvimento de habilidades interpessoais, como trabalho em equipe, comunicação e liderança.

No geral, a reforma do ensino médio proporciona aos alunos maior flexibilidade, um currículo mais relevante e as habilidades necessárias para ter sucesso no mundo moderno. Embora possa haver alguns desafios na implementação do novo currículo, está claro que esta reforma terá um impacto positivo no sistema educacional e no futuro do Brasil.

Entretanto, algumas pessoas podem ter medo do novo ensino médio. Isso pode ser devido ao medo do desconhecido, da mudança ou da incerteza sobre o futuro. É compreensível existirem preocupações sobre a implementação do novo currículo, mas é importante lembrar que a mudança é necessária para garantir que os alunos recebam a melhor educação possível.

A coragem não é a ausência de medo, mas sim a capacidade de agir apesar do medo. É preciso ter coragem para enfrentar os desafios que vêm com a mudança, mas é importante lembrar que a mudança pode trazer coisas incríveis e melhorias significativas para o sistema educacional.

Se você quiser saber mais sobre este tema, ou se tiver problemas específicos que precisam ser solucionados, siga-me nas redes sociais ( @aylahuovi). Até a próxima!

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